sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sofrimento - o que é isso? (parte II)

Tenho ouvido com preocupação, algumas afirmações de destacados líderes evangélicos - e de alguns outros, nem tão destacados assim - os quais proclamam aos quatro ventos que "para parar de sofrer - basta querer". Algumas igrejas chegam a oferecer a eliminação do sofrimento - afirmando que aqueles que se transferirem para elas não sofrerão mais.

Claro que discordo de tais afirmações! Tenho percebido que aqueles que afirmam tais coisas, acabam por cometer um grande equívoco; por suporem que o sofrimento está relacionado tão somente a maldição e castigo. Ou então, como se o mesmo fosse tão somente um mal congênito, contagioso ou acidental. Minha discordância reside em minha convicção, baseada nas Escrituras, de que o sofrimento pode ser causado por diversos fatores. Ele tanto pode ser punitivo como terapêutico - e pode ter um fim proveitoso

E como já antecipei na postagem anterior - no dia 7 deste - o sofrimento, salvo raras exceções, geralmente é resultante da atitude do ser humano em relação à Palavra de Deus. Portanto, ele pode ser produzido e até mesmo agravado por falta do Evangelho na vida das pessoas que persistem em viver sem Deus. Como também pode ser causado, embora por fatores outros, por causa do Evangelho na vida daqueles que servem a Deus. Nesta postagem, tentarei explicar melhor estes dois conceitos:

Sofrimento por falta do evangelho

Qualquer cristão, minimamente experiente, tem o conhecimento de que a falta do evangelho na vida de alguém, pode agravar o seu quadro de sofrimento; ou mesmo causar sofrimentos ainda maiores - tanto físicos como espirituais e morais. Em meu ministério pastoral, tenho visto situações de dor e sofrimento que poderiam ter sido amenizadas - ou mesmo evitadas, se o evangelho de Cristo fosse abraçado pelos que assim vivem.

A mulher com fluxo no sangue é um exemplo para refletirmos quanto a isso. A Palavra de Deus relata que "certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos médicos, e despendido tudo quanto possuía sem nada aproveitar, antes indo a pior, tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto" (Marcos 5.25-27). Vemos assim que ela sofria muito, indo de mal a pior... Até que ouviu falar de Jesus! À partir daí, sua vida mudou completamente!

A falta do Evangelho na vida de alguém, pode tornar-se um fator agravante do seu sofrimento - mesmo que este fator, à priori, não seja a causador direto do mesmo. Assim como em outros casos semelhantes, fica evidente que este mal presente no corpo daquela mulher, mediante o qual sofria tanto, só pode ser removido quando ela ouviu falar a respeito de Jesus. Não exagero ao afirmar que "ouvir falar de Jesus", foi o que a motivou a buscar em Deus a sua cura - ou o fim daquele terrível sofrimento.

Temos aqui um outro texto emblemático: "Senhor, tem compaixão de meu filho, porque é epiléptico e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água" (Mateus 17.15). Vemos nesta história, que a falta do evangelho na vida daquela família prolongou o seu terrível sofrimento - vendo no dia-a-dia o estado de opressão e sofrimento em que vivia o seu filho, até que ouviram falar de Jesus e recorreram a ele. O clamor de um pai aflito - "Senhor, tem compaixão de meu filho" - pode não ter sido o primeiro; mas foi o passo decisivo mudar a situação.

"Ora, naquele mesmo tempo estavam presentes alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios deles. Respondeu-lhes Jesus: Pensais vós que esses foram maiores pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis" (Lucas 13.1-3)

Quanto ao fato de que o pecado atua como terrível "agente do sofrimento" - percorrendo caminho livre, devido a falta do evangelho; produzindo sofrimento e morte na vida daqueles que por ele foram vencidos - disso não tenho a menor sombra de dúvida! E o texto apontado acima, indica que o pecado iguala o destino de todos os pecadores. E a falta do evangelho do arrependimento irá definir a morte eterna daqueles que vivem na prática do pecado.

E o texto que se segue nos alerta quanto ao risco que os desobedientes correm - mediante a falta do Evangelho - de serem banidos de diante da face do Senhor: "E a vós, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder em chama de fogo, e tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus; os quais sofrerão, como castigo, a perdição eterna, banidos da face do senhor e da glória do seu poder" (2 Tesalonicenses 1.7-9).

Sofrimento por causa do Evangelho

"Retiraram-se pois da presença do Sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus" (Atos 5.41)

Este texto bíblico exibe o modo como os cristãos primitivos lidavam com o sofrimento por causa do Evangelho. O que vemos aqui, nada tem a ver com algum tipo de prazer no sofrimento; nem uma simples alegria pelo sofrimento em si mesmo. O regozijo demonstrado por estes cristãos estava diretamente associado ao fato "de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus". Este é um tipo de sofrimento causado, devido ao comprometimento com a causa do evangelho. E neste quesito, os cristãos primitivos nos dão as maiores lições!

"Na verdade já é uma completa derrota para vós o terdes demandadas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes a fraude?" (1 Coríntios 6.7)

Na exortação do Apóstolo Paulo, encontramos uma séria advertência aos que não estão dispostos a "sofrer o dano". O sofrimento por causa do evangelho - além de glorificar a Deus em sua essência - descarta escândalos; daqueles provocados por cristãos que não são capazes de sofrer por amor a Cristo. Estes escândalos surgem, sob as mais variadas formas: Dentre elas, enumeramos o número de divórcios entre casais cristãos; a turbulência nas relações trabalhistas entre patrões e empregados cristãos; na maledicência entre aqueles que se sentem ofendidos por algum irmão crente; etc.

"Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério" (2 Timóteo 4.5)

Temos visto, nos dias de hoje, os grandes problemas causados pelo mau testemunho de obreiros em sua própria comunidade. E a maioria destes escândalos deriva de insatisfação quanto a salário - como se a vocação tivesse preço. De quando em vez, lemos sobre pastores que levaram sua igreja na justiça, para reparos financeiros a que julgam ter direito. Lamentável! Como se pastorear o rebanho do Senhor e pregar o evangelho fosse profissão. Prefiro antes que o Senhor me leve, do que vir a ser causa de escândalo devido a atitudes desse gênero. Misericórdia!

"É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a quem o pai não corrija?" (Hebreus 12.7)

Existem muitos casos, em que o sofrimento nada mais é do que tratamento de Deus para disciplinar Seus filhos. E quando isso acontece, precisamos ter maturidade suficiente para buscar aprender através das medidas disciplinares que o Pai nos aplica; sempre para o nosso bem. Quando recalcitramos, o tratamento perde o efeito.

"Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus" (1 Pedro 2.20)

Será que todos nós estamos aptos para entender esta sistemática? Alguns se dedicam a fazer o bem, contando ser regiamente recompensados pelo Senhor - já nesta vida. Não tenho a menor dúvida quanto a recompensa do Senhor para com os que agem com amor em prol do seu próximo. Todavia, ela nem sempre vem enquanto aqui vivemos.

"Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem" (1 Pedro 4.19).

Outra coisa: sofrer com paciência quando pecamos pode ser um boa atitude. Mas sofrer com paciência quando fazemos o bem - é algo sobremodo agradável a Deus! Pois, a Palavra de Deus diz que é melhor "sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal" (1 Pedro 3.17).

"Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer" (1 Pedro 5.8-10).

Vemos aqui uma exortação apostólica, a que vigiemos e sejamos sóbrios; sabendo que Satanás utiliza de todos os meios para nos tentar e ferir. O texto evoca o sofrimento dos nossos irmãos que, pelo mundo afora, sofrem por causa do evangelho. E conclui afirmando que o Deus que nos chamou, irá nos aperfeiçoar e fortalecer; depois de havermos sofrido por um pouco. Glória a Deus!

E para concluir este importante assunto - sem todavia esgotar o tema - deixo o testemunho do apóstolo Paulo; concernente as aflições que - como crentes - sofremos neste mundo: "Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Romanos 8.18)

Cordialmente;
Bispo Calegari

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