segunda-feira, 11 de abril de 2011

E voltaram os setenta

"Voltaram depois os setenta com alegria, dizendo: Senhor, em teu nome, até os demônios se nos submetem. Respondeu-lhes ele: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dei autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos fará dano algum. Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus" (Lucas 10.17-20)

Senti hoje, o desejo de falar sobre a essência da Missão

Encontramos na Palavra de Deus, aquilo que poderíamos chamar de "três gritos de largada" para a Obra Missionária. No primeiro, o Senhor Jesus convoca os "seus doze discípulos" e os envia (Lucas 9. 1-6). Já no segundo, ele designa "outros setenta e os envia adiante de sua face", de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir" (Lucas 10.1). E finalmente no terceiro - que deriva do texto mais mais popular, em se tratando de desafio para a evangelização - ele reuniu os seus discípulos, momentos antes de ser arrebatado, "e disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado" (Marcos 16.15-16).

Se examinarmos atentamente os três textos citados, nos quais o Senhor Jesus comissiona os seus seguidores para a missão de evangelizar; vamos deparar com três componentes bem interessantes, presentes em cada um deles:

O primeiro é o fato de existirem universos diferenciados entre as três comissões

Enquanto que a primeira comissão - que podemos chamar aqui de "pequena comissão" - tem um universo restrito. E isso se deduz do fato de ser a mesma executada por um pequeno grupo; e por ser de curta duração (eles não necessitariam levar nada consigo para o caminho - nem mesmo alimento, roupa suplementar ou dinheiro). Já a segunda comissão - que podemos chamar aqui de "'média comissão" - é executada por um grupo bem maior e tem um universo mais alongado; todavia, tal como na primeira, seus agentes não necessitariam levar recursos suplementares. No entanto, quanto a terceira comissão - universalmente conhecida como a "Grande Comissão"; a mesma não é mais dirigida a um grupo distinto; e sim, a todos os crentes, em todos os lugares e para todas as gerações.

O segundo indica um ponto comum entre as três comissões

Vemos que, na três comissões, está explícita a ordem de Jesus para que: Preguemos o evangelho; expulsemos os demônios; curemos os enfermos. Os textos de referência não deixam qualquer dúvida quanto a existência desta tríplice ordem presente nas comissões:

"Reunindo os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem doenças; e enviou-os a pregar o reino de Deus, e fazer curas... Saindo, pois, os discípulos percorreram as aldeias, anunciando o evangelho e fazendo curas por toda parte" (Lucas 9.1-2,6)

"Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide; eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos... Curai os enfermos que nela houver, e dizer-lhes: É chegado a vós o reino de Deus" (Lucas 10.1-3,9)

"E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados" (Marcos 16.15-18)

Quando lemos a continuação destes textos, percebemos que os discípulos cumpriram plenamente a ordem recebida! Mesmo na Grande Comissão - em sua fase inicial. Está patente nas Escrituras, que o trabalho realizado pelos cristãos primitivos não dispensava a missão de curar e libertar os enfermos e oprimidos.

E isso nos leva a refletir sobre um questionamento inevitável: Por que - ao longo da história da Igreja, incluindo os dias atuais - a grande maioria dos que tem sido enviados pelo Senhor só consegue cumprir uma das três tarefas ordenadas?

O terceiro é a existência de um relatório, ao final da missão

Na "Pequena Comissão" - tendo cumprido a missão para a qual haviam sido enviados - "Quando os apóstolos voltaram, contaram-lhe tudo o que havia feito. E ele, levando-os consigo, retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida" (Lucas 9.10). E ali, um banquete sobrenatural selou o cumprimento daquela comissão restrita.

Na "Média Comissão" - tendo também cumprido a missão para a qual haviam sido enviados - "Voltaram depois os setenta com alegria, dizendo: Senhor, em teu nome, até os demônios se nos submetem" (Lucas 10.17). Naquela ocasião, Jesus lhes deu algumas lições importantes:
Primeira lição (v. 18): Existe sempre o risco de que a alegria do êxito da missão pode transformar-se em orgulho!
Segunda lição (v.19): A autoridade que nos capacita para tão importante tarefa, não é nossa - foi-nos delegada!
Terceira Lição (v. 20): A fonte da nossa alegria deve ser sempre o fato de termos o nosso nome no Livro da Vida!
Quarta lição (v. 21): Nosso trabalho - quando bem feito - alegra o coração do Senhor!
Quinta lição (v. 22): Não estamos na missão por competência nossa; ou por qualidades excepcionais - mas sim porque Jesus nos deu este privilégio!
Sexta lição (v. 23): Jesus chama a atenção para o fato de que muitos grandes homens de Deus do passado, bem melhores do que nós, desejariam ver (milagres) e ouvir (evangelho) aquilo que temos visto e ouvido - que é ainda mais importante do que aquilo que estamos fazendo!

Na "Grande Comissão" também haverá relatório. Sim - haverá uma prestação de contas! O texto de Marcos, no qual a mesma está registrada, encontramos este termo de encerramento: "Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam" (Marcos 18.19-20). Portanto, ao que tudo indica, a prestação de contas será no cumprimento da missão.

E como a missão ainda está em fase de cumprimento, temos ainda tempo de por em ordem algumas coisas; de cuidar de fazer as tarefas que estamos deixando para trás. Ou será que alguém ainda tem alguma dúvida quanto ao fato de que o cumprimento integral da missão só se dá quando pregamos, curamos e libertamos?

Cordialmente;
Bispo Calegari

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