segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Geazi anda por aí

"20  Então Geazi, servo de Eliseu, homem de Deus, disse: Eis que meu senhor poupou a este sírio Naamã, não recebendo da sua mão alguma coisa do que trazia; porém, vive o SENHOR que hei de correr atrás dele, e receber dele alguma coisa. 21  E foi Geazi a alcançar Naamã; e Naamã, vendo que corria atrás dele, desceu do carro a encontrá-lo, e disse-lhe: Vai tudo bem? 22  E ele disse: Tudo vai bem; meu senhor me mandou dizer: Eis que agora mesmo vieram a mim dois jovens dos filhos dos profetas da montanha de Efraim; dá-lhes, pois, um talento de prata e duas mudas de roupas. 23  E disse Naamã: Sê servido tomar dois talentos. E instou com ele, e amarrou dois talentos de prata em dois sacos, com duas mudas de roupas; e pô-los sobre dois dos seus servos, os quais os levaram diante dele. 24  E, chegando ele a certa altura, tomou-os das suas mãos, e os depositou na casa; e despediu aqueles homens, e foram-se. 25  Então ele entrou, e pôs-se diante de seu senhor. E disse-lhe Eliseu: Donde vens, Geazi? E disse: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte. 26  Porém ele lhe disse: Porventura não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou do seu carro a encontrar-te? Era a ocasião para receberes prata, e para tomares roupas, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e servas? 27  Portanto a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então saiu de diante dele leproso, branco como a neve".
(II Reis 5.20-27)

Algumas histórias da Bíblia tem conseguido marcar profundamente a minha vida e o meu ministério. Algumas delas, pelos valores morais e espirituais que conseguiram me passar - mediante o bom testemunho daqueles que as protagonizaram. Outras, nem tanto assim... Na verdade, algumas revelam o lado mau de decisões tomadas por alguns que poderiam ter tido um melhor destino. Dentre as que servem de advertência a todos nos - obreiros do Senhor que sentem o chamado de Deus para servir no ministério - chamo a atenção para a triste história de Geazi.

Geazi ainda vive entre nós

Quando afirmo que Geazi ainda continua vivendo entre nós, não estou me referindo a presença física do moço do profeta Eliseu. Assim como Jesus, ao declarar que Elias esteve entre eles, não se referia a Elias, o tisbita; e sim, a unção e virtude de Elias - presentes na vida de João Batista. Longe de insinuar reencarnação, doutrina condenada nas Escrituras, o objetivo do Mestre é demonstrar que João viera no mesmo espírito e virtude de Elias, para cumprir missão análoga a do famoso profeta.

E é neste mesmo sentido, que me refiro ao fato de Geazi continuar existindo entre nós. Não estou proclamando o retorno do Geazi do passado! Mas, sim, denunciando a existência de "moços-do-profeta" e, até mesmo de profetas; vivendo na mesma condição e com a mesma motivação daquele infeliz. São aqueles que - chamados ou não por Deus para o ministério - escolheram seguir os passos de Esaú e de Geazi; trocando a bênção por um prato de comida ou por um punhado de moedas, completamente seduzidos pela ganância e pela cobiça.

Para Geazi, a prioridade já não era o cumprimento da missão; mas, as vantagens materiais que podia auferir através dela. Mesmo que ele tivesse tido um belo início de carreira ministerial, tal experiência fora sufocada por sonhos de prosperidade e de grandeza. O seu maior desejo, agora, era enriquecer e adquirir bens e fama - valendo-se dos privilégios da missão. Portanto, em sua vida, viver em função do chamado e da missão deixou de ser prioridade.

Tentando entender Geazi, percebo que sua motivação foi corrompida pela cobiça. Não sei precisar o ponto em que ele perdeu o rumo. Entretanto, é de supor que foi crescendo dentro de si o desejo de ganho fácil e enriquecimento - tendo a missão se tornado o trampolim para concretizar este desejo. Finalmente, quando atingisse seu objetivo, a missão seria apenas um "faz-de-conta"; ou, uma espécie de "moeda-da-sorte" de um famoso personagem das histórias em quadrinhos. Ou, talvez, a descartasse em um canto escuro qualquer, na tentativa de remove-la de sua lembrança. Quanto a lepra... Não devia fazer parte de seus planos. Triste fim para um promissor "moço-do-profeta"!

O Monte da Tentação é logo ali

Tenho entendido em meu espírito que o "Monte da Tentação" não é apenas um episódio do ministério de Jesus; mas, também, um sinal de alerta, a nos advertir que Satanás não desiste nunca de tentar nos seduzir e aniquilar. Quando ele vê mediocridade em nós, nos oferece alguns "brinquedinhos" de quando em vez, para nos manter sob controle. Se, por outro lado, vê em nós graça e unção acima da média, procura então nos assediar: Primeiro com pressões rotineiras. Caso não isso seja suficiente - tenta nos seduzir com o poder, fama e riquezas deste mundo sob seu absoluto controle.

Foi deste modo que Satã tentou desviar Jesus de sua missão: Oferecendo-lhe fama e riqueza, recusadas de imediato pelo Mestre. E, do mesmo modo, procura desencaminhar os homens de Deus - tanto os profetas, como os "moços-dos-profetas" - voltando-se especialmente para aqueles que trazem marcas de um chamado especial, com grande capacidade de influência; para então, através deles, exercer domínio sobre o povo de Deus. Aos tais, disponibiliza fama e riqueza em larga escala. E não são poucos os que tem sido vencidos por este ardil de Satanás.

Ambição pelo poder e suas conseqüências

O Apóstolo João denuncia a ambição pelo poder existente na vida de Diótrefes: "Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja" (3 João 9-10). Aquele obreiro, plenipotenciário, procurava ter domínio sobre a herança de Deus.

O Apóstolo Pedro exorta aqueles que presidem o rebanho do Senhor, com palavras claras e objetivas: "Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória" (1 Pedro 5.2-4). Fica evidente que o homem de Deus deve presidir o rebanho do Senhor com amor e exemplo; não com autoritarismo.

O amor ao dinheiro pode causar muitos danos

A Palavra de Deus nos adverte quanto ao perigo do apego ao dinheiro, "porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (I Timóteo 6:10). Em minha missão episcopal, algo que ainda me causa preocupação e angústia é ver como certos obreiros demonstram apego ao dinheiro. Alguns deixam isso muito claro, logo em sua primeira reunião com a liderança. É lamentável!

E o mais triste é que os que assim agem, são os que mais dificuldades enfrentam - tanto de ordem espiritual como de ordem financeira. Em termos de vocação, o que se espera de um verdadeiro servo de Deus - é que o mesmo se preocupe em primeiro lugar com o estado do rebanho do Senhor. Seus primeiros questionamentos devem incluir: O que posso fazer por esta igreja? Em que posso ser útil aos que serão assistidos pelo meu ministério? O que esta igreja espera de mim, como seu pastor? Enfim... Os que assim iniciam o seu ministério a frente de uma igreja, são sempre os que alcançam os melhores resultados. É admirável!

Cordialmente;
Bispo Calegari

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