"Então foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então lhes disse: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo. E adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. Voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Assim nem uma hora pudestes vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." (Mateus 26.36-41).
O texto de Mateus, editado acima, descreve um dos momentos mais dramáticos da vida terrena do Senhor Jesus. A batalha seria tão intensa, que Jesus levou consigo os três mais experientes discípulos, para que estivessem com ele. "Ficai aqui e vigiai comigo" (v.38) - foi o seu emocionado apelo aos seus companheiros.
Sabemos que Jesus manteve uma vida de oração intensa. Ele transpirava oração, mesmo quando descansava; ou quando se punha a caminhar, entre uma missão e outra. Mas alguns momentos de oração se tornaram marcantes do seu ministério. Um desses momentos, foi o que antecedeu a escolha dos doze discípulos. Outro desses momentos, foi antes de ir ao encontro dos discípulos, caminhando sobre as águas. Poderíamos ainda mencionar mais alguns.
Mas o momento de oração no Getsêmani foi muito especial. Ele pode ser visto como uma antecipação da crucificação - como se "Getsêmani" e "Gólgota" fizessem parte de uma mesmo quadro profético. Ali, enquanto orava ao Pai, Jesus antecipava o seu martírio. Todavia, não estava sozinho. Enquanto Ele gemia em oração, tinha a pronta cobertura de oração daqueles que levara consigo. Mas... Será que tinha mesmo?
Vigiai comigo
Jesus estava pronto a arcar com a agonia imposta pela oração solitária. Ele estava ciente do significado daquele momento. Embora procurasse levar companhia consigo; não hesitou em preservá-los - deixando-os à parte. Jesus não esperava deles nada além daquilo que poderiam fazer. Sim! Era isso mesmo. Afinal de contas, o mínimo que se pode esperar daqueles que caminham conosco na obra de Deus, é que estejam dispostos a nos dar cobertura de oração.
Todavia, aqueles discípulos - mesmo tendo haviam sido escolhidos "a dedo", tinham seus limites. Eles eram, assim como nós, afetados por aqueles "maus momentos" que perturbam a vida de qualquer crente (em um dia, somos capazes de orar uma noite inteira; em outro dia, somos induzidos a ficar distantes do altar). E assim, num lampejo de fraqueza, eles adormeceram.
Nem uma hora
Pobres discípulos, ainda meninos. Nem imaginavam o quanto o Mestre iria depender do apoio em oração, que somente eles poderiam dar. Existe um dito popular expresso assim: "Assim como o boi, que não sabe a força que tem"; assim também, aqueles discípulos não tinham ideia da força que a oração pode conferir; tanto à vida dos que a praticam; como à vida dos que são levados a Deus através dela. Mas para eles, havia algo mais importante do que orar: Preferiram dormir.
A falta de oração pode contribuir para o declínio espiritual; pode também arruinar uma família consagrada; e até mesmo uma igreja bem estruturada. Não é errado supor que o desempenho de Jesus no "jardim da oração" só não foi prejudicado, devido ao fato de Jesus ter aprofundado suas orações, intensificando seus gemidos; compensando assim a omissão daqueles que escolhera para acompanhá-lo em momento tão decisivo para sua Missão.
Vigiai e orai
Aqueles três discípulos, em sua ignorância, nem imaginavam que a falta de oração pode levar o crente a uma vida carnal. Eles não faziam ideia dos riscos representados por uma vida na carne. As obras da carne podem virar uma vida "de pernas para o ar". Jesus os advertiu dizendo: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (Mateus 26.41).
Jesus sabia perfeitamente que Seus obreiros seriam frequentemente tentados; assim como Ele mesmo fora, em tudo, tentado - mas sem pecado. Naquele momento, Jesus sinalizava que - sem vigilância e oração - a tentação poderia levar o mais dedicado crente, ao perigoso limite entre a vitória e o fracasso.
Ao longo de minha vida, tenho visto crentes visivelmente frágeis, demonstrarem admirável segurança espiritual (o denominador comum entre eles, é uma vida de oração e vigilância). Por outro lado, tenho visto homens de Deus - verdadeiros expoentes do evangelismo brasileiro e mundial - serem golpeados por rumorosos escândalos; justamente por terem negligenciado a oração e a vigilância.
O que fazer então
Jesus exortou: "Vigiai comigo". No reino de Deus não existem heróis vivos. Qualquer crente - obreiro ou não - por mais maduro e experiente que seja, é potencialmente sujeito a queda e fracasso. Temos visto trágicos desfechos na vida daqueles que não conseguiram velar "nem uma hora" com Jesus.
Pois é, meus irmãos; precisamos entender a importância de uma vida de oração: Seja em relação a nossa vida conjugal; seja em relação aos nossos filhos; seja em relação ao nosso trabalho. Tudo em nós, fica sempre na dependência de nossa vida com Deus. Portanto, os nossos mais valiosos tesouros correm o risco de sofrer sérios danos, se não nos pusermos diante do Pai em oração.
Cordialmente;
bispo Calegari
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