sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Itinerância (parte II)

Na condição de Superintendente Regional, encaro com alguma reserva e preocupação os sistemas de governo que não tem a itinerância como norma. Não que eu seja um ardoroso defensor da "itinerância pela itinerância". Sempre entendi que a itinerância deve ser considerada mais pelo seu viés profético, do que por uma razão meramente administrativa. Se os que trabalham com intinerância pudessem ser divididos em grupos diferenciados, acredito que eu fosse colocado junto àqueles que não vêm o ato de nomear como um procedimento banal - de trocar "seis por meia-dúzia". Respeito os que optam por promover itinerância para impor autoridade; ou por conveniência administrativa; ou mesmo por outras razões. Mas eu não penso assim!

Não consigo conceituar "itinerância", sem levar em conta que o Deus eterno tem o "homem certo" para a "tempo certo" na "igreja certa". Não consigo ver de outro modo! Quando estou presidindo o Conselho Ministerial Regional, para decidir sobre nomeações, sempre caminho sobre uma espécie de corda bamba - balançando entre o desejo humano, suscetível de falhas, e o propósito de Deus para com aqueles que estão sob minha autoridade imediata.

Então, fico a pensar: "Se o meu espírito sente tamanho desconforto ao nomear um obreiro para uma igreja; por que tenho passado minha vida episcopal a ouvir obreiros se referirem a sua necessidade de permanecer ou de sair de determinada igreja, alegando como motivo: Escola dos filhos; igreja melhor; cidade mais interessante; proximidade com família (pai ou mãe); proximidade com praias e shoping; conveniência financeira; etc."?

Lembro-me aqui da advertência de um veterano profeta a um profeta calouro: "Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja sobre mim dobrada porção de teu espírito. Respondeu Elias: Coisa difícil pediste. Todavia, se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará; porém, se não, não se fará" (2 Reis 2.9-10).

Mas lembro-me também da advertência de um veterano apóstolo a um obreiro em experiência: "Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra" (2 Timóteo 2.4). E este abnegado apóstolo imprime o seu testemunho pessoal quanto à prioridade do Reino de Deus: "Assim como também eu em tudo procuro agradar a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que sejam salvos" (1 Coríntios 10.33). E é ele também que, de modo magistral, encerra o assunto: "Não servindo somente à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus" (Efésios 6.6).

Tenho sempre a ressoar em meus ouvidos, as antigas e clássicas canções de dedicação ao trabalho de Deus. Em uma delas, o princípio da itinerância soa mais ou menos assim: "Nem sempre será para onde eu quiser que o Mestre me tem de mandar..." e aí por diante. Em outra delas, seu estribilho define assim a posição de um itinerante: "Se Cristo comigo vai, eu irei; e não temerei..." e por aí a fora. Existe também aquela que resume o testemunho do verdadeiro servo de Deus: "Bem pouco importa eu habitar em alto monte, a beira-mar; em casa, gruta, boa ou ruim - É sempre um céu, com Cristo em mim". Estas belas canções tem como denominador comum, o fato de que foram produzidas por homens de Deus à moda antiga; comprometidos com o princípio da itinerância ministerial.

Isso não quer dizer, necessariamente, que um pastor comprometido com este princípio bíblico não possa permanecer por bastante tempo - e até mesmo por toda a sua vida - em um determinado lugar. Não mesmo! Conheço homens de Deus que foram muito bem sucedidos em nomeações prolongadas à frente de determinada igreja. Isso não significa que os mesmos não estivessem prontos para serem transferidos em qualquer altura. Não é isso! O que deve prevalecer no íntimo de cada vocacionado ao ministério é o princípio - não o procedimento.

Resumindo: O conceito de itinerância implica em uma responsabilidade de mão dupla: Existe a responsabilidade de quem nomeia; e existe a responsabilidade de quem é nomeado. Quando ambas as responsabilidades se tornam perfeitamente ajustadas com o propósito de Deus, as decisões serão altamente compensadoras. Quando ambos - nomeador e nomeado - vivem em busca da direção de Deus, com espírito sensível à Sua gloriosa voz; e submissos ao seu imperativo, todos serão edificados. Todos serão abençoados.

Para concluir, trago até nós o "Ide" de Jesus e seu imperativo:

"E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam" (Marcos 16.15-20).

Observem as partes em destaque. E... Até a próxima postagem!

Cordialmente;
Bispo Calegari

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