"Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16.33).
Existem coisas que são essenciais para quem pretende ter uma vida cristã de alto nível. Contudo, a mais importante delas é ouvir a Palavra de Deus. E quando me refiro a "ouvir a Palavra de Deus", o que eu quero mesmo dizer é: Dar ouvidos à Palavra de Deus! Não é meu objetivo tecer explicações sobre as diferenças entre ambas as expressões. O que desejo vincar nesta palavra, é a necessidade que nós temos de atentar para o que Deus nos diz em Sua Palavra.
É fácil verificar que Jesus reservou os ensinamentos mais profundos para os seus discípulos, no dia em que constituiu a Ceia - no cenáculo. Ele estava ciente quanto ao que viria a seguir. Deixara isso bem claro, ao dirigir-se aos doze, denunciando a existência de um traidor entre eles. Entretanto, sua denúncia velada não permitiu que seus discípulos identificassem o traidor.
Na verdade, seu objetivo não era simplesmente apontar o traidor; ou mesmo denunciar os pecados de seus seguidores. Não! O que ele pretendia, era fortalecer seus discípulos, em hora tão dolorosa; para que os mesmos pudessem suportar os golpes que se seguiriam. Sua palavras soavam um tanto estranhas ao pequeno e atento grupo (João dedicou 5 dos 21 capítulos do evangelho, ao registro destas palavras). Dentre outras coisas,, Jesus falou sobre:
Submissão e Servidão
Uma providencial bacia de lavar estava prestes a tornar-se objeto de curiosa polêmica (não pela bacia em si; mas por aquilo que o Mestre resolvera fazer através dela). Pedro sentira profundamente o golpe em seu "brio" de servo. "Mas, por que eu não pensei nisso antes do Mestre"? - Devia perguntar à si mesmo o dedicado apóstolo. Passou por enorme constrangimento, ao tentar dar uma lição de humildade fora de hora.
Mas, quem de nós não terá passado por constrangimento semelhante, em uma ocasião ou outra? E justamente por nos julgarmos melhores do que realmente somos (devemos ter sempre em mente que, mesmo com todas as honras e priviégios que nos sejam atribuídos, não passamos de servos da pior espécie - servos inúteis). Causa profundo desconforto, percebermos que alguém nos superou em humildade e serviço. E pior fica a situação quando tentamos remediar o irremediável; quando procuramos dar lição de humildade em hora imprópria.
Jesus vedou qualquer possibilidade de auto-defesa ou justificativa por parte de qualquer deles: "Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (João 13.13-15).
Guardar a Palavra
Jesus deixou bem claro que a maior prova de amor que lhe podemos dar, é guardando a Sua Palavra (João 14.23). E esta forma de demonstrar amor a ele é tão determinante, que fez severa advertência quanto ao oposto disso: "Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou" (João 14.24).
Vivemos um momento na história da Igreja, em que a Palavra de Deus parece ter deixado de ser relevante para muitos obreiros. Alguns escritores são aplaudidos e divulgados por grandes líderes da Igreja de Cristo. Mas quando examinamos o conteúdo de seus escritos, a luz das Escrituras, percebemos que os mesmos depõem contra seus autores. O que se vê, na grande maioria deles, é que a doutrina de Cristo precisou ser "desfigurada" mediante interpretações espúrias, para que seus conceitos heréticos pudessem se sustentar.
A ideia que vigora na mente de muitos, é que "Deus é amor" (dedução correta); portanto, Ele será capaz de fazer qualquer coisa para nos ver "felizes" (conceito espúrio). Estive ouvindo um pastor que conheço desde muito jovem, em seu programa de televisão, usar as seguintes palavras: "Jesus, eu quero que tu vás no hospital, onde a irmã fulana está, para ministrar a bênção em sua vida" (não estou exagerando no que digo).
O que este amado irmão não está entendendo, para infelicidade sua, é que a missão de visitar os enfermos é nossa. Sem se dar conta, ele acabou por inverter os papeis: Jesus nos exorta a visitar os enfermos, como se o fizéssemos a ele mesmo. Mas o que este jovem pastor fez, em sua oração temerária, foi justamente o contrário: Ele "Ordenou" a Jesus que fizesse algo, porque ele assim o "queria". Uma lástima! Inversões como esta, são resultado direto daquilo que está sendo ensinado em nossos dias.
Sobre a paz verdadeira
Jesus fala sobre paz! O mundo também fala sobre paz! Muitos falam sobre paz! Na verdade, este é um dos assuntos mais em voga em nossos dias. A diferença, é que Jesus fala sobre a verdadeira paz - a sua paz. Esta paz não chega nos moldes da paz do mundo - uma paz de ocasião. E os termos em que ele nos faz esta promessa, acentua a diferença: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize" (João 14.27).
A paz de Deus é capaz de tirar o medo. Na verdade, a paz que Jesus dá não atribui coragem - ela lança fora o medo. É devido a isso que, na promessa, ele nos ensina que nosso coração não deve se turbar nem se atemorizar. Sua paz não está assentada nos conceitos de segurança, de conforto e de bem-estar sobre os quais este mundo procura se firmar. Não mesmo! A paz de Deus independe de fatores externos para se manifestar em toda a sua pujança.
Existem outras advertências de Jesus, no cenáculo, que podem fazer a diferença entre salvação e perdição; entre vida com Deus e vida sem rumo; entre graça e juízo. Mas vamos deixar este assunto para outra postagem.
Cordialmente;
Bispo Calegari
Nenhum comentário:
Postar um comentário