"E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor" (Jeremias 23.4)
Não podemos falar em dons e ministérios como força na igreja local, sem antes falar no ministério pastoral como agente facilitador e propulsor desta força. Segundo o meu entendimento, este ministério é o fator que desencadeia o processo de fundamentação, formação, encaminhamento e revisão de tudo o que acontece em uma igreja local. Em assim sendo, algumas coisas precisam ser ditas sobre o ministério pastoral, antes de chegarmos ao cerne do estudo.Ministério Avivado
Avivamento tem tudo a ver com "coração abrasado". E em se tratando de ministério pastoral, o pastor precisa viver uma intensa vida espiritual, marcada por ações avivalistas, interagindo com sobrenatural de Deus. "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura... E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados... Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam" (Marcos 16.15, 17-18, 20). O pastor que procura manter sua vida no "altar em chamas", verá o seu ministério fazer a diferença entre o sobrenatural e a mediocridade.
Tenho percebido que a busca de muitos pastores por formação acadêmica e por títulos; bem como pelos diversos cursos oferecidos no mercado - pode indicar o sintoma de um coração frio e vazio de Deus. E quando isso acontece, somos tentados a tentar compensar o vazio do coração com uma mente cheia de conhecimento e uma parede cheia de diplomas. Não estou dizendo que a preparação acadêmica não seja importante; o que estou afirmando é que a ausência de Deus na vida de um pastor, torna infrutíferas todas as outras qualidades.
Em ocasiões assim, pode ser de bom tom dar uma "espiadinha" no passado. Meditemos na experiência de Filipe. Este homem, em seu ministério, interagia com o sobrenatural de Deus: "E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo. As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados; pelo que houve grande alegria naquela cidade" (Atos 8.5-8). Este exemplo não significa que todo pastor deve ter as mesmas qualidades sobrenaturais de Filipe. Sabemos muito bem que os dons e ministérios podem diferir em grau e finalidade, em um e outro obreiro. Entretanto, o que se percebe nos dias de hoje é a ausência do Espírito Santo em muitos púlpitos. E este vazio tem tudo a ver com o nível de consagração do pastor que o ocupa.
Ministério Motivado
Em qualquer setor de atividade humana, o estado de ânimo e motivação de uma pessoa se torna fator determinante do fracasso ou do sucesso. E no ministério pastoral, o bom ânimo é um dos requisitos mais importantes na vida de um Pastor. Como elemento isolado, o entusiasmo não acrescenta muito além de produzir momentos de motivação e alegria na vida daqueles que por ele são afetados. Todavia, inserido em um conjunto de requisitos afins ao ministério, o bom ânimo torna-se de um valor incalculável para a mobilização da igreja local.
Quando o Senhor se dirigiu a Josué, após a morte de Moisés; uma de suas exortações foi que se esforçasse e tivesse bom animo. A ideia implícita no texto, é que o esforço sem bom ânimo não teria o mesmo resultado: "Esforça-te, e tem bom ânimo, porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria. Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, a fim de que sejas bem sucedido por onde quer que andares" (Josué 1.6-7). Ao longo de minha vida ministerial, tenho visto pastores muito esforçados, cujo exemplo de dedicação tem se tornado referência para muitos. Todavia, em muitos deles, o seu esforço não se traduz em rebanho animado e motivado. Mas se olharmos atentamente, iremos perceber que o desânimo de suas ovelhas deriva da falta de entusiasmo em suas ações pastorais.
Sabemos que, em muitos casos, as circunstâncias que rodeiam um pastor são altamente desanimadoras. Todavia, a Palavra de Deus apresenta um quadro de desânimo extremo - mas com resultados sobrenaturais. O Apóstolo Paulo estava em uma nau condenada. Entretanto, em momento algum naquele barco, demonstrou qualquer aparência de desânimo - antes, pelo contrário: Ante um naufrágio iminente, ele se dedicava a buscar a direção do Senhor; e não se entregava ao desânimo geral reinante naquele barco. Em dado momento, ele se dirige aos tripulantes e passageiros com excelente bom ânimo: "Portanto, senhores, tende bom ânimo; pois creio em Deus que há de sucede assim como me foi dito" (Atos 27.25). A igreja local é como uma nau singrando mares nem sempre favoráveis; estando o comando da mesma nas mãos do seu pastor. E não é errado supor que o estado de ânimo desse pastor pode significar um doloroso naufrágio - ou sua chegada ao porto desejado.
Ministério Santificado
As Escrituras nos ensinam que nos tornamos santos, ao nascermos de novo. Sendo o Senhor um Deus santo, Sua santidade impõe que Seus filhos sejam também santos. Isso significa que quando nos tornamos seus filhos, Ele nos torna santos por posição. Todavia, precisamos entender que o fato de sermos santos por posição, não nos dá o direito de sermos profanos por opção. O pastor precisa ser santo por posição e por experiência. "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo." (1 Pedro 1.15-16). São duas linhas que se cruzam, formando uma cruz: Santidade vertical (posição de filho) - que tem a ver com natureza. E santidade horizontal (experiência de cristão) - que tem a ver com testemunho.
Na vida de um crente, conduta santa não é alternativa; é sim, imperativo! "Porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo." (1 Pedro 1.16). A Palavra de Deus, em diversos textos, destaca a santidade como ingrediente indispensável para quem cultua a Deus: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Romanos 12.1). Ao longo do meu ministério, tenho percebido que o pastor deve sempre permear os seus atos pastorais, administrativos e proféticos com uma vida de santidade genuína. "Não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado" (II Coríntios 6.3).
Ministério Aprovado
O ministério pastoral é, geralmente, aprimorado por escolas de formação, dentre as quais a escola de teologia é considerada a mais tradicional e eficaz. Entretanto, existe uma escola que julgo ser a melhor das escolas: A "Escola do Sofrimento". Tenho percebido que as marcas produzidas por sofrimento na vida de um obreiro, podem transformar profundamente o seu modo de ver e de compreender o sentido de tudo na vida.
Escutemos atentamente o que o Senhor Jesus diz a este respeito: "Respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome" (Atos 9.13-16). Existe uma poesia que declara: "ser mãe é padecer no Paraíso". No entanto, sem pretender diminuir o significado desta afirmação, eu afirmo que "padecer no Paraíso" é padecer pelo nome de Jesus.
Para concluir a parte II deste estudo, deixo uma das mais mais belas poesias sobre sofrimento que já tenho lido - do poeta Francisco Otaviano:
"Ilusões da Vida"
"Quem passou pela vida em brancas nuvens,
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem.
Só passou pela vida - não viveu".
Cordialmente;"Ilusões da Vida"
"Quem passou pela vida em brancas nuvens,
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem.
Só passou pela vida - não viveu".
Bispo Calegari
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