"Eis que vem a hora, e já é chegada, em que vós sereis dispersos cada um para o seu lado, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo" (João 16.32).
Neste texto, ao dirigir-se aos seus discípulos, jesus faz duas declarações sobre a hora que "já é chegada": A primeira delas, é quanto ao estado de solidão em que seria deixado pelos seus próprios discípulos - as pessoas mais chegadas; aqueles que viveram sempre mais próximos dele. A segunda declaração - uma espécie de antídoto à primeira - revela a esses mesmos discípulos que ele não estaria só: "O Pai está comigo".
O servo de Deus; especialmente aquele que é chamado para o ministério, vive uma vida que alterna companhia e solidão. Ora, sente-se cercado de pessoas que o admiram - que expressam empatia, carinho e adesão ao seu ministério - alguns chegando mesmo a dizer que estarão sempre ao seu lado. Outras vezes, olha à sua volta e não percebe ninguém; e justamente naqueles momentos em que precisava tanto de alguém ao seu lado.
Se examinarmos atentamente o dia-a-dia de Jesus, iremos perceber que ele alternava momentos assim: Ora a multidão o "apertava"; ora sentia-se tão só - sem ninguém ao seu lado. Mas ele declara que jamais estaria só. A companhia do Pai é testemunhada por ele, em diversos textos.
"E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado" (João 8.29).
Jesus atribui a presença do Pai consigo, ao fato de fazer sempre a Sua vontade. Vivemos hoje um ambiente cristão, no qual a maioria parece procurar viver fora da vontade de Deus. Um grande número de crentes sofre a influência de uma maneira errada de pensar o verdadeiro cristianismo (é como se tivessem feito uma espécie de vida cristã. Para consumo interno). Muitos crêem na Palavra de Deus, mas vivem padrões comportamentais totalmente opostos a ela. Seus relacionamentos; seu modo de criar os filhos; enfim, seu modo de viver a vida não condiz em nada com os ensinamentos da Bíblia.
"Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações" (Lucas 22.28).
O texto pronunciado por Jesus, valoriza a presença dos seus discípulos em momentos de provação. E cada um de nós tem pessoas amigas e companheiras; prontas a estar ao nosso lado em momentos de dificuldade. Tenho visto isso ao longo de toda a minha vida. O fato é que nunca estamos inteiramente sós. Mas existem cristãos de difícil relacionamento; que não conseguem demonstrar simpatia, nem inspiram confiança. Seu modo de agir para com os que deles se aproximam acaba por afastá-los de si. Com o tempo, além dos amigos, acabam por afastar de si a sua própria família. Os tais precisam aprender que a semente da solidão não germina de imediato; mas, se a plantarmos, iremos comer do seu fruto - que é a solidão.
"Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo" (1 Coríntios 15.10).
O apóstolo Paulo testemunha da graça de Deus presente em sua vida. A graça de Deus, quando presente em nossa vida, abre o caminho para outras presenças importantes. A graça de Deus é contagiante; é interativa; é conciliadora. Se esta graça estiver em nós, isso significa que o próprio Deus está em nós. E também significa que manteremos as pessoas que amamos próximas de nós (esposa, filhos, amigos, irmãos, etc). Afinal de contas, quem não deseja estar próximo de alguém que transpira a graça de Deus?
"Ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus 28.20).
Temos aqui, a promessa da presença do Senhor conosco "todos os dias". Tenho pregado ao longo do meu ministério, que Jesus se faz presente na vida do Seu povo. E, além de pregar, tenho experimentado esta verdade ao longo de minha vida. Em momentos de tentação; em momentos de dor; em momentos de solidão aparente, Jesus sempre esteve ao meu lado. Tenho plena convicção quanto a isso! Contudo, o que geralmente nos falta, é sermos dotados de "olhos de ver", para perceber esta gloriosa presença; e "ouvidos de ouvir", para escutar quando nos fala.
"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre" (João 14.16).
Vemos aqui, que o próprio Jesus intercedeu por nós, para que não nos sentíssemos sós. Ele bem sabia que seu retorno ao Pai estava próximo. E tinha perfeita noção da dor e solidão que sua ausência iria provocar na vida dos Seus. Então rogou ao Pai, para que nos desse "outro ajudador". Ele se referia ao Espírito Santo, "o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós" (João 14.17). E o Espírito Santo é uma presença infalível; sempre pronta a agir em nosso favor.
"Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco" (2 Coríntios 13.11).
Deixei este texto para o final, devido ao fato que ele nos torna responsáveis pela presença de Deus, ou pela ausência dela, em nossa vida. A palavra de Deus alerta quanto ao tipo de vida que devemos viver, se de fato pretendemos ter a presença de Deus conosco:
Uma vida de regozijo
Realmente, precisamos convir que não existe companhia mais desagradável do que aquela que só vive reclamando de tudo; sempre criticando qualquer coisa. Nada consegue agradar alguém assim. Por outro lado, uma vida que se regozija - que se alegra; é uma vida agradável para com todos. Sua presença sempre edifica. Este tipo de pessoa raramente está só.
Uma vida de perfeição
O tipo de perfeição aqui proposto, não é perfeição absoluta. É uma perfeição que se manifesta em dois níveis: O primeiro nível, é o da perfeição cristã - aquela que se baseia na Palavra de Deus; uma vida de santidade. O segundo nível, é o da perfeição relacional - cujo princípio está estabelecido na Palavra de Deus, no seguinte termo: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas" (Mateus 7.12). Este texto se contrapõe à lei do Gerson, de que "Temos que levar vantagem em tudo"; e ao conceito de "farinha pouca, meu pirão primeiro".
Um mesmo parecer
De modo geral, todos os crentes desejam ter comunhão com todos os crentes. Acontece que comunhão é afinidade. Nem mesmo um casamento consegue caminhar bem, se não houver um parecer comum pautando a vida do casal. Se assim não for, mesmo que se amem muito, acabarão por viver em permanente estado de tensão e de sofrimento. E quanto a isso, a Palavra de Deus nos adverte: "Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3).
Vivei em paz
Existem muitos cristãos, que vivem sempre em conflito com os outros; especialmente com aqueles que estão mais próximos deles. Vivem sempre "cobrando" coisas e obrigações. E, pior do que isso, vivem sempre impondo sua vontade e seus caprichos sobre seus amigos. É muito difícil conviver com alguém assim. Viver em paz é "viver e deixar viver". Viver em paz é andar junto sem dada impor, sem nada cobrar. Viver em paz é viver bem; sempre em boa companhia.
Conhecemos casos de pastores e obreiros que não conseguem fazer amigos dentro de sua própria casa; ou em seu próprio rebanho. E quando fazem algum amigo, tornam-se tão invasivos e inconvenientes, incomodando demasiadamente os seus amigos, que acabam por perdê-los.
E o Deus de amor e de paz será convosco
É isso, meus amados irmãos! Se conseguirmos por em prática os princípios aqui expostos; mesmo que nossos amigos se afastem, Deus sempre se fará presente em nossas vidas. Portanto, procuremos praticar estes princípios; e vivamos uma vida livre da solidão.
Cordialmente;
Bispo Calegari
Nenhum comentário:
Postar um comentário