segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dormi agora e descansai

"42 Retirando-se mais uma vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade. 43 E, voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam carregados. 44 Deixando-os novamente, foi orar terceira vez, repetindo as mesmas palavras. 45 Então voltou para os discípulos e disse-lhes: Dormi agora e descansai. Eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 46 Levantai-vos, vamo-nos; eis que é chegado aquele que me trai" (Mateus 26.42-46).

A experiência de Jesus, no Getsêmani, é tão profunda e contém lições tão aplicáveis aos nossos dias, que este é já o terceiro trabalho que faço sobre a mesma. Conforme vimos nos dois títulos anteriores, Jesus comunica aos discípulos a decisão de ir "ali orar"; e pede aos três que levara consigo - "vigiai comigo". Neste título, ele cumpre o seu propósito de oração e tranquilliza os discípulos, dizendo-lhes: "Dormi agora e descansai"!

Verdadeiramente, a oração de Jesus no Getsêmani transmite a intensidade do seu sofrimento - tanto aquele sofrimento que ele experimentava em seu dia-a-dia; como o sofrimento atroz que desabaria sobre ele nas próximas horas. Todavia, sua vitória no "campo de batalha da oração" conquista para todos nós o direito de dormir e descansar. Aleluia! Creio que será de grande proveito refletirmos sobre algumas expressões em consonância com aquele "instante Getsêmani":

Retirando-se mais uma vez, orou

"Retirando-se mais uma vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade" (v.42).

Naquele momento, Jesus carregava sobre si uma dor imensurável. Sua agonia era tão intensa, que decidiu retornar ao altar da oração. E sua oração, no verso 42, nos mostra "que oração fazer" e "que decisão tomar", quando aquilo que nos está reservado pressupõe dor e angústia.

Com sua oração, Jesus nos ensina que, o fato de termos que enfrentar algo que não nos agrade, não é razão suficiente para deixarmos de fazer a vontade de Deus. Tenho ouvido obreiros do Senhor afirmarem que todo o sofrimento é do diabo. Existem até aqueles que acham que o fim do sofrimento depende de uma vontade imperativa e determinante da nossa parte; e, nesta convicção, chegam a advertir: "Pare de sofrer"!

Entretanto - entre uma coisa e outra - prefiro ficar com o que a Palavra de Deus ensina. E nela fica patente que certos tipos de sofrimento são pedagógicos terapêuticos. O sofrimento que suportamos, pode trazer lições importantes para cada um de nós. E pode também nos tornar maduros e preparados para os desafios da vida. Não pretendo dizer com isso, que devemos buscar o sofrimento, devido aos benefícios que o mesmo pode trazer. Estou tão somente afirmando que nem todo o sofrimento é um mal em si mesmo.

Olhos carregados

"E, voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam carregados. Deixando-os novamente, foi orar terceira vez, repetindo as mesmas palavras" (v.43-44).

Voltando novamente da oração, Jesus encontra mais uma vez os seus discípulos dormindo profundamente. Ele sabia que aquela não era hora para dormir. Porém, seus discípulos não se davam conta disso. Os seus olhos estavam tão carregados de sono, que eles não conseguiam mantê-los abertos. E Jesus retorna mais uma vez, ao "altar da oração".

Dormi agora e descansai

"Então voltou para os discípulos e disse-lhes: Dormi agora e descansai. Eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores" (v.45).

Logo após encerrar aquele momento de oração, na certeza de ter alcançado a graça que buscara; e que fora fortalecido o bastante, para enfrentar os horrores do julgamento e da crucificação; Jesus chega para tranquilizar os sonolentos discípulos. Ele não se deixou influenciar pela letargia dos seus discípulos. Antes, pelo contrário, lutou até o fim.

E sua oração nos ensina que jamais devemos esmorecer, mesmo quando nossos olhos estiverem carregados de sono. Tenho aprendido que a oração é um descanso. Mas também é uma luta! E jamais devemos fechar os nossos olhos e adormecer, enquanto há uma batalha sendo travada. Neste tipo de luta, não se conquista vitória com conversa; a vitória vem pela oração!

Foi depois de perseverar e prevalecer em oração, que Jesus conseguiu lidar com a traição, com a perseguição e com a injustiça; todavia, sem demonstrar ressentimento para com os seus perseguidores e algozes. A Palavra de Deus registra que, logo após a oração vitoriosa, ele exorta os discípulos dizendo: "Levantai-vos, vamo-nos; eis que é chegado aquele que me trai" (v.46). Aquele instante era o início do fim de sua existência terrena. Mas também era o inicio do fim da bem sucedida missão de salvar a humanidade.

Cordialmente;
bispo Calegari

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