quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Uma agradável viagem ao passado

Quem dentre nós não sente - ao menos de quando em vez - um forte desejo de encontrar o seu passado? E não estou me referindo a um mergulho nas águas turvas de uma história sombria. Também não tem nada a ver com algum tipo de lembrança dolorosa; produzida por fatos que nos tenham magoado - ou mesmo nos apequenado - em algum lugar do passado. Não é isso!

O que desejo aqui transmitir - é aquele sentimento de definição imprecisa; de que precisamos novamente contemplar, ainda que seja com os olhos da imaginação, "algo bom aconteceu lá atrás". E, na medida em que este sentimento evolui, sentimos o desejo de viajar - seja nas asas do vento, seja nas asas do tempo - indo ao encontro do nosso venturoso passado.

Encontro com o passado

E hoje encontrei o meu passado; ou, pelo menos, parte dele. É verdade! Isso aconteceu, em uma visita que fiz a um grande amigo de outrora. Na verdade - muito mais do que amigo - um verdadeiro pai espiritual. Estivemos - Celia e eu - no Bairro S. Francisco, em Niteroi; na casa de Custódio Miranda. Ele fez oitenta e um anos no dia 8 deste mês. Na ocasião, segundo o seu filho primogênito - Dr. Edison Miranda - manifestou o desejo de nos rever "antes de ser promovido à glória". E assim, viajamos com o firme propósito de ver o irmão e amigo Custódio!

Custódio me ajudou muito em minha juventude. Assim como eu - sempre foi apaixonado por pássaros. Este prazer nos aproximou e nos tornou amigos. E foi assim, que acabou me conduzindo a Cristo. São seus filhos: Edison Miranda (seu filho médico); Edilson Miranda (seu filho pastor); Edna; Edilma; Miriam e Rebeca. Destes seus queridos filhos, só não conheci a Rebeca, por ser filha do seu segundo casamento. A saudosa irmã Nair faleceu alguns anos depois da minha conversão; em um tempo que já não tinhamos mais contato, devido as minhas viagens missionárias - levando-me cada vez mais distante de muitos daqueles que amo.

Enquanto rebuscávamos em nossa memória, alguns recortes do passado; sua esposa Deiva, preparava um café de agradavel aroma - aquele tipo de café que costumo chamar de "café medroso", por vir sempre muito bem acompanhado e guarnecido. Conversamos muito - sobre muitas coisas. Em dado momento, dos bastidores da memória, tentei reproduzir algumas cena muito especiais.

Visita dos seminaristas empolgados

Lembramos juntos, do dia em que nós dois estávamos no telhado de sua casa (sempre em "interminável construção), em um domingo, colocando telhas no telhado novo. Em dado momento, entraram alguns cadetes do Exército de Salvação, muito animados e ruidosos, pelo corredor lateral esquerdo da casa. Sua alegria devia ter pelo menos um motivo: Eles estavam chegando para almoçar com a irmã Nair (mulher alguma conseguia transformar um guisado de carne moída com batata inglesa cortada em cruz, em uma iguaria tão deliciosa, como a irmã Nair era capaz de fazer... Que saudade!). Ali, naquele exato momento - sem que eu soubesse - foi definido o meu futuro!

No dia seguinte, 26 de outubro de 1964 - uma segunda-feira fria (lembro-me que estava vestido com uma japona de lã de, cor cinza xadrez); estes jovens seminaristas realizaram um culto na Igreja Congregacional; cujo templo fica quase em frente ao ponto das barcas, em Niterói. Acompanhei o casal Custódio e Nair até este culto especial promovido pelo Colégio de Cadetes do Exército de Salvação. E lá, após a mensagem, entreguei minha vida a Cristo (uma das poucas coisas que me lembro, daquele culto, é que a pregação foi feita por um jovem muito alto, conhecido como "Cadete Frechou" (não sei se é assim que se escreve); o qual também orou por mim, enquanto eu me ajoelhava no "banco dos penitentes".

O caso da mulher endemoninhada

Lembramos também, juntos, do dia em que expulsei o primeiro demônio. Eu tinha me convertido a poucos dias. Naqueles dias, os cultos do Exército de Salvação em Niterói eram realizados no terreiro dos pais do Custódio, com alguns bicos de luz, sob uma árvore ali plantada (o Corpo Salvacionista da Rua Visconde do Itaboraí estava em construção).

Lembro-me perfeitamente que a irmã Nair teve uma participação nesse culto. Em dado momento, uma mulher gritou, assustadoramente endemoninhada. Houve então um início de tumulto; pois, ninguém sabia exatamente o que fazer. Comecei então a sentir uma espécie de estremecimento nas pernas, como se algo ou alguém tentasse me levantar.

Logo em seguida, sem que eu pudesse me conter, levantei-me e me dirigi à mulher possessa, bradando: "espírito maligno, eu te ordeno que deixe este corpo". Ela estremeceu, demonstrando espanto mesclado de alegria! Estava finalmente livre, graças a Deus! Desde aquele dia, perdi a conta das inúmeras vezes em que expulsei demônios. Todavia, jamais me esqueci daquele primeiro caso - no terreiro dos pais do Custódio.

O tempo não para

Outras lembranças afloraram. todavia, o tempo que passamos juntos, já estava de bom tamanho (passamos cerca de duas horas conversando); especialmente, para quem teria que se submeter a uma hemodiálise no dia seguinte e para quem teria que viajar logo após este abençoado encontro. Todavia, não sem antes saborear o café da irmã Deiva, que revelou-se não apenas aromático; mas também delicioso!

Ao final, oramos e choramos juntos - de mãos dadas - em profunda comunhão com o Pai! É notório que Custódio vive um tempo de saúde debilitada. No entanto, continua sendo o mesmo Custódio de sempre - exibindo, do alto dos seus 81 anos de existência (ou será 82 ou mais? Não sei) o mesmo vigor espiritual de antigamente; e uma mente admiravelmente lúcida e interativa. Obrigado Senhor!

Cordialmente;
Bispo Calegari

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