sábado, 27 de novembro de 2010

A história dentro da história - parte I

"E eis que uma mulher cananéia, provinda daquelas cercania, clamava, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, que minha filha está horrivelmente endemoninhada. Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: Despede-a, porque vem clamando atrás de nós. Respondeu-lhes ele: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me. 26 Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã" (Mateus 15.22-28).

Esta tão importante história da mulher cananéia, registrada neste texto, inclui uma outra história em seu bojo. O texto em pauta nos passa a impressão que Jesus foi insensível ao clamor daquela pobre mulher. Mas isso é só na observação superficial; pois, para termos um entendimento correto do episódio, precisamos conhecer o contexto da lei e das promessas que circundam esta interessante história. E isso só é possível, mediante uma análise do quadro profético que foca a vinda do Senhor Jesus ao mundo.

Só para entendermos melhor

Desde a aliança feita por Deus com Abraão, havia uma promessa antiga que garantia a vinda de um Redentor para os filhos deste último. Como a promessa se referia aos "filhos de Abraão" em um contexto restrito (os filhos de Israel); aquela mulher, sendo uma siro-fenícia, não estava abrangida pela mesma - assim como os gentios que viviam em seu tempo. Esta é uma das razões pelas quais Jesus, sempre que enviava seus discípulos, orientava a não entrarem em aldeias de samaritanos, como nos mostra o texto a seguir: "A estes doze enviou Jesus, e ordenou-lhes, dizendo: Não ireis aos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos" (Mateus 10.5).

A universalidade da promessa dependia de um ato

A este ato, podemos chamar de Rejeição! No evangelho de João, este assunto está parcialmente claro: "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" (João 1.11-12). O texto, mesmo não sendo claro, nos leva a deduzir que "os Seus" tem a ver com o fato de Israel. Mas a confirmação definitiva deste ponto de vista fica exposta em Romanos 11.25-26: "Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado; e assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades". Vemos aqui, que, o endurecimento de Israel estendeu o benefício da redenção a toda a criatura.

Como se consumou esta rejeição

A Palavra de Deus nos indica que esta rejeição provavelmente se iniciou no momento em que os judeus escolheram a Barrabás e rejeitaram a Jesus: "O governador, pois, perguntou-lhes: Qual dos dois quereis que eu vos solte? E disseram: Barrabás. Tornou-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, que se chama Cristo? Disseram todos: Seja crucificado" (Mateus 27.21-22). Mas sua consumação se deu quando ele foi crucificado e morto: "Então Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito" (João 19.30).

Concluindo

Esta é a razão pela qual Jesus não atendeu de imediato a mulher cananéia. Os discípulos sentiram-se constrangidos com o clamor da mulher; chegando a pedir a Jesus que a despedisse de vez. Todavia, ao longo do texto, ele faz três declarações concernentes àquela mulher:

1) Na primeira declaração, "Respondeu-lhes ele: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" Mateus 15.25). Com estas palavras, procura fazer ver aos Seus discípulos a prioridade de sua missão.

2) Na segunda declaração, "Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos (Mateus 15.26). E agora, dirigindo-se à própria mulher, reafirma o alvo de sua missão.

3) Na terceira declaração, ele responde a uma declaração da infeliz mulher - declaração esta, que mudou o todo o rumo de sua história: "Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã" (Mateus 15.28).

Verdadeiramente, o modo como aquela mulher lhe respondeu abriu-lhe por antecipação a porta da graça. O caso dela não foi único (o centurião da história do servo enfermo é outro deles). Mas foi a mais dramático. E isso nos inspira a falar um pouco mais sobre "a história contida nesta história". E faremos isso na próxima postagem.

Cordialmente;
Bispo Calegari

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