quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Nem Charlie, nem Kouachi


Enquanto parte do hemisfério ocidental declara: "J'e suis Charlie!"; ouso dizer que não sou, nem Charlie, nem Kouachi! E digo isso, porque fica claro aos meus olhos que - nesta trágica ocorrência - ninguém matou ou morreu por uma justa causa. Os que mataram, o fizeram por pura insanidade gerada por fanatismo religioso; e os que morreram, foram vítimas de seu próprio escárnio e desprezo aos valores e crença dos que pensam diferente deles. Também, não devemos incorrer no erro de chamar este caso de um choque entre a intolerância de uns e a liberdade de expressão de outros; pois, se houve intolerância, isto ocorreu dos dois lados da tragédia. Na verdade, a liberdade de expressão só é dignamente praticada, quando respeita os sentimentos dos que defendem valores e conceitos com os quais não concorda. Assim como a democracia não deve ser utilizada como argumento para defender a anarquia; também a liberdade de expressão não deve ser usada como base legal para ofender e ridicularizar a crença de alguém.
 
Em assim pensando, não acredito que o fervor com que os dois lados deste drama defendem o seu modo de julgar os fatos e expressar sua dor, venha trazer algum tipo de melhoria no quadro de fanatismo e intolerância em que este mundo vive - seja ela religiosa, política, racial, ideológica - e que cresce e recrudesce a cada dia; tangendo a humanidade para confrontos previsíveis, que provocarão males para ambos os lados de qualquer pendência. Na verdade, o desenvolvimento humano sempre foi fruto de pensamentos e medidas válidas pautadas no respeito e no equilíbrio; algo que pouco se vê nos dias de hoje. Os religiosos de plantão precisam entender que, afinal, um deus que dependa de alguém que mate ou morra para defender sua honra; não é digno de ser considerado Deus. E o próprio Jesus é a maior demonstração daquilo que afirmo; pois, em sua missão de buscar e salvar o que se havia perdido (Lucas 19.10), morreu em favor dos homens - não de suas ideias ou conceitos - mas, de suas preciosas vidas.
 
Este texto dá sentido ao que tenho procurado dizer: "Porque Quem quer amar a vida, E ver os dias bons, Refreie a sua língua do mal, E os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; Busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, E os seus ouvidos atentos às suas orações; Mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal. E qual é aquele que vos fará mal, se fordes seguidores do bem? Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, Tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo." (1 Pedro 3:10-16). Na verdade, a Palavra de Deus tem o dom de nos conduzir pela linha do temor, equilíbrio e respeito.
 
Cordialmente;
Bispo Calegari

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