segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Não me deste ósculo

"36  E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa. 37  E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; 38  E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento. 39  Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora. 40  E respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. 41  Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta. 42  E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? 43  E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem. 44  E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos. 45  Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. 46  Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento. 47  Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. 48  E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados. 49  E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? 50  E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz"
 (Lucas 7.36-50).

O texto bíblico aqui postado, tem seu foco principal na pecadora que ungiu os pés do Senhor. A partir deste ato, se estabelece um diálogo entre Jesus e Simão - cheio de exortação e ensino. E as lições dele extraídas, são de um valor incalculável.

Entrei em tua casa e não me deste ósculo

As palavras de Jesus, a primeira vista, podem dar a idéia de algum desabafo pelo fato de não ter recebido atenções especiais de Simão - o anfitrião da festa. Ele acusa não ter recebido água para lavar os seus pés. E também informa não ter tido sua cabeça ungida com óleo. E expressa sua surpresa com o fato de não ter recebido o ósculo - saudação obrigatória em ocasiões como aquela.

No entanto, o que incomodava a Jesus não era a falta de cordialidade de Simão - o anfitrião despreparado. Ele estava, sim, respondendo de modo subliminar a uma censura eivada de preconceito e julgamento temerário, feita por Simão. E não fora uma expressão audível. Ele formulara tão infelizes palavras dentro de si mesmo; e Jesus auscultara o seu íntimo.

Portanto, longe de expressar qualquer ressentimento ou mágoa, Jesus chamava a atenção do inconveniente Simão para o fato de que aquela mulher, tão injustamente julgada por ele, fizera muito mais pelo convidado ilustre, do que o próprio dono da festa fora capaz de fazer. Pois ela - em manifestação extremada de amor por Jesus - lavou os seus pés com suas lágrimas, afagou-os e enxugou-os com os seus cabelos e ungiu-os com o seu próprio ungüento. Bendita mulher anônima, mal amada e de modo errôneo julgada! 

Que tipo de pessoa perdoada será capaz de amar mais

No entanto, antes de chegar ao cerne da questão, Jesus contou uma história ao desatento Simão. Mencionou dois endividados: Um, com dívida enorme; outro, com dívida de pequena monta. E Jesus chama a atenção do equivocado Simão, para o fato de que o credor decidiu perdoar a ambos. Anistia plena! Coube ao surpreso Simão opinar sobre qual dos dois anistiados, passou a amar mais ao seu amoroso credor. "Aquele que recebeu maior perdão" - declarou o até então confuso Simão. Jesus sentencia: Realmente, o mais perdoado é quem mais agradece e valoriza o perdão recebido.

Geralmente, todo aquele que se julga a si mesmo com benevolência, não consegue entender muito bem o valor do perdão. Na verdade, seu senso de justiça própria o impede de enxergar a grandeza do perdão recebido. Todavia, aquele que consegue ver a maldade de sua natureza pecaminosa e do mal que o seu pecado faz em sua vida; este entende melhor o valor do perdão, nesta vida e na outra. 

Perdão antes, perdão depois

Ser perdoado e amar... Amar e ser perdoado... Enfim... Moto-contínuo! É isso mesmo! perdão e amor correspondente; amor e perdão correspondente - são como elos de uma cadeia sucessiva. "Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados" (Lucas 7.47-48).

Portanto, amar e perdoar são atos de natureza recíproca - definitivamente interligados - neste mundo e no outro.
 
Cordialmente;
Bispo Calegari

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