segunda-feira, 19 de julho de 2010

Bastidores da Memória

Inicio da Obra Wesleyana no Triângulo Mineiro

Nestas visitas que tenho feito às IMW do Distrito de Uberaba, tenho sido transportado aos bastidores da memória. Mais propriamente ao ano de 1977, quando se iniciaram as atividades da nossa Igreja no Triângulo Mineiro. Esta missão nasceu de um projeto simples, despretencioso, de visitar a cidade de Uberaba, por ser a cidade em que vivia o irmão Adalberto, um novo membro da IMW de governador Valadares, então, sob meu pastorado a quase cinco anos. Adalberto, hoje pastor batista, havia sido batizado naquele ano em nossa igreja. Ele era representante comercial e estava sempre viajando por diversas cidades mineiras, vendendo chapeus. Ele trabalhava também para o irmão Jonaídes, que vendia em sua loja diversos modelos de chapeus e outros artefatos relacionados à vida no campo (a cerca de dois meses estive com o querido irmão Jonaides, em seu comércio em Valadares). Foi deste relacionamento, que Adalberto acabou tendo contato conosco. Com seu jeitão simples e peculiar, costumava frequentar nossa casa; e acabou tornando-se membro da IMW de Governador Valadares, e também um grande amigo.

De quando em vez, Adalberto viajava para Uberaba, onde morava com sua mãe, de saudosa memória, e sua irmã. Na altura ele era um solteirão inveterado - muito engraçado em suas conversas, sempre falando sobre casamento e sobre seus sonhos (quando fomos para Portugal, ele nos visitou lá). Comecei a interessar-me por sua família, embora ele falasse muito pouco sobre este assunto. Em uma de suas viagens a Uberaba, resolvi acompanhá-lo. Partimos juntos, percorrendo em seu carro, os oitocentos quilômetros que separavam Uberaba de Governador Valadares. Quando chegamos à entrada da cidade, movido a um impulso, pedi-lhe que parasse o carro. Saí para o acostamento e fiz uma oração a Deus. Lembro-me muito bem das palavras, que soaram mais ou menos assim: "Senhor, dá-me esta cidade, para que eu possa plantar nela uma igreja". Entramos novamente no carro (um fusquinha, carro muito usado na época, pelos representantes comerciais). Fiquei hospedado em sua casa. Dali, levou-me a vários lugares da cidade, para visitar alguns amigos dele - dentre eles a figura inesquecivel do Dr Luiz Durant, advogado e oficial da PM. Concluida esta etapa, retornamos a Valadares. Deixei Uberaba, mas Uberaba ficou gravada em meu coração. Orava sempre, pedindo a Deus que me abrisse uma porta naquela cidade.

Naquele mesmo ano de 1977, depois de um entendimento com o Presbitério da IMW de Valadares, fui em missão para Uberaba, levando comigo um jovem obreiro, de nome Carlos, já falecido. Levei também algum dinheiro, para instalarmos a IMW naquela cidade. Deixei a família em Valadares; entreguei a igreja ao Presbitério, e partimos para este desafio missionário. Encontrei um amplo salão que fora um supermercado, na Prudente de Morais, importante rua do Bairro da Abadia. Como não tinhamos fiador, paguei tres meses adiantados. Fomos também à emissora de rádio mais popular da cidade e contratei um programa diário, as 7 da manhã, pagando tres meses adiantados, pelas mesmas razões. Nos instalamos numa pensãozinha bem simples e barata, pois o dinheiro trazido de Valadares estava no fim. O que sobrou daria para comermos apenas uma vez por dia. Perguntei ao Carlos se ele preferia almoçar ou jantar, ao que ele respondeu: "num dia a gente almoça; no outro a gente janta; para não perdermos o costume...". Achei engraçado! Mandei confeccionar cinco mil folhetos e demos uns trocados a dois meninos, para que distribuissem no Bairro da Abadia. As reuniões seriam diárias: de segunda a sábado, as 15 e as 19.30; e no domingo, tres reuniões - as 09, as 15 e as 19.30 horas.

Lembro-me da primeira reunião: uma segunda-feira, as 15 horas. Haviam oito pessoas naquele amplo salão escuro, pois os que desocuparam o mesmo, deixaram as contas de energia em atraso. Das oito pessoas que vieram, uma estava terrivelmente possessa; o demônio falava por sua boca: "Já matei o filho, e agora vou matar a mãe". Declarei-lhe que o poder da vida e da morte estava com o Senhor Jesus e, em seguida, ordenei-lhe que se retirasse daquela mulher (depois fui informado de que ela sofrera um aborto a cerca de oito dias). Foi o primeiro milagre operado naquela frente missionária, para a glória do nosso Deus! Na reunião da noite, o grupo aumentou para 12 pessoas. Como não havia iluminação, comprei alguns pacotes de velas e acendemos em volta. Isso deu um aspecto estranho; mas não tinhamos outra solução. Durante esse tempo, Célia vinha de vez em quando de Valadares, para ficar comigo ois ou tres dias (nessas ocasiões, nos hospedávamos sempre em casa do Dr. Luiz Durant e sua esposa). Célia me ajudou muito no ministério de libertação; pois, a mulher que Deus me deu, é uma grande guerreira do Senhor!

Lembro-me da Edna e Darci, que ainda estão por lá, como membros dedicadas da igreja. Eram bem jovens na altura. Havia também a Maria das Graças, que atualmente está em outra igreja. No primeiro mês, converteu-se também uma advogada, de nome Aliceluza, que tornou-se uma coluna naquele trabalho (ela era filha do Dr. Luiz e sobrinha daquela senhora que foi liberta na primeira reunião). Costumavamos subir ao monte, nas noites de sexta-feira, para orarmos. Alguns crentes iam sendo batizados com o Espírito Santo naquelas vigílias. Após noventa dias de trabalho, batizei os primeiros crentes - 54 vidas que haviam se convertido ao Senhor naqueles 90 dias de reuniões, e que estavam prontas para servir a Jesus.

Havia também uma vizinha que costumava levar uma moringa d'agua para que bebêssemos; e chegou a emprestar-me umas duas cadeiras, para que eu subisse em cima, para dirigir e pregar. Quebrei as duas cadeiras dela. Ela se converteu, mas nunca mais me emprestou das suas cadeiras (Na verdade, todos ficavam em pé, pois não haviam cadeiras no salão). Num dos dias, atrasei-me; ao chegar, encontrei as jovens Edna e Maria das Graças dirigindo o trabalho, cantando com os presentes alguns dos corinhos que costumavamos entoar. Foi um quadro muito comovente - ver as meninas tentando se equilibrar sobre aquelas frágeis cadeiras, procurando ajudar enquanto não chegávamos!

Logo após nosso primeiro batismo, precisei retornar para Valadares. Entretanto, ao longo do ano de 1977, enviei alguns obreiros para Uberaba: Primeiramente o Atílio, que era do Paraná; depois o Paulo, que havia vindo da Presbiteriana Renovada; e também Paulão e alvino, que eram obreiros nossos em Valadares. No meu espírito, eu sabia que meu ministério em Valadares estava chegando ao fim. Sabia também que, dentro de alguns meses, Deus me levaria para Portugal, para lá iniciar a obra wesleyana - o trabalho de missões estrangeiras mais bem sucedido da IMW, em um dos maiores desafios missionários que já enfrentei. Mas esta é uma outra história, marcada por diversos episódios que vale a pena serem contados; pois, assim como esta, também está bem viva nos bastidores da minha memória.

Cordialmente;
Bispo Calegari

Um comentário:

  1. Sr. Bispo eu fico maravilhado como Deus tem atuado no meio do povo ontem,hoje e sempre continuará atuando.
    Estamos aqui orando pela ampla recuperação do nosso pastor Renato Jabor,pois ele passou por uma operação de hernia,mas Deus tem dado a vitória.
    A Paz do Senhor Jesus!

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